23 de março de 2007

RESPOSTA A UM DEPUTADO


(Publicado em 8 de maio de 2001)



Vi na TV, dia 7 de maio [de 2001], uma entrevista com o deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa do Maranhão, Manoel Ribeiro. Trata-se de um ferrenho adversário da campanha pela criação do Estado do Maranhão do Sul. Um adversário de respeito: parece ter topete para encarar brigas (pelo menos, com a população imperatrizense e seus parcos e fracos representantes), tem mantido seu cargo de presidente há muitos mandatos, assim como tem mantido sua propalada riqueza patrimonial e financeira. Também, é amigo da governadora maranhense, que, por sua vez, já se manifestou liminarmente contrária à criação do Maranhão do Sul. Como se vê, por esse “currículo”, os defensores da criação de um novo Estado têm uma pedreira pela frente.


“POLITICAGEM” - Acontece que o deputado declarou em alto, bom e arrogante som, em um restaurante da cidade, que está vindo a Imperatriz “com uma campanha forte” [contra o Maranhão do Sul]. Continua o deputado, textualmente: “Não farei, não faço política aqui, mas a partir dagora vou fazer política aqui e vou ser radicalmente contra essa divisão, porque nós não vamos dividir o que é nosso, vamos é somar. Considero isso politicagem [a campanha pró-Maranhão do Sul] e não vou aceitar. O Maranhão não se divide, soma-se. Dividir por quê?”


A análise do discurso desse deputado aponta carências de toda sorte: falta de memória, falhas de raciocínio, ausência de um só dado factual, técnico, histórico, científico. Só é competente em fazer política, porque a maioria se impressiona com a aparência fogueteira de certos pronunciamentos.


“SPARRING” - Tivesse Imperatriz representantes com destemor e competência intelectual, tivesse essa cidade uma classe empresarial menos amordaçada pelos interesses pessoais ou corporativos e menos refém da espada de Dâmocles do Fisco Estadual, tivéssemos lideranças mais efetivas e menos estatutária, com conteúdo para encarar debates, tivéssemos uma sociedade civil mais organizada e consistente, tivéssemos uma Imprensa mais fortalecida, que se preocupasse menos com casos e mais com causas, tivéssemos isso e algo mais e pessoas com posicionamentos assim, dito na nossa casa/cara, certamente levariam o troco que merecem -- preservado, claro, o democrático e justo direito de dizer o que se quer, bem como ouvir o que não quer... Não se é contra o debate, não se quer eliminar a priori as (im)posturas contrárias aos que querem um novo Estado ao sul do Maranhão. Não é isso. O que se não deve aceitar é essa eterna postura de sparring da sociedade imperatrizense, que não se cansa de levar socos e golpes verbais, políticos, tributários etc.


Mas, vejamos alguns dos argumentos do presidente da Assembléia Legislativa maranhense:


“O Maranhão deve continuar o mesmo, no mesmo tamanho, na mesma grandeza”. – Não adianta o Estado manter esse tamanho (não diria “grandeza”), se o “tamanho” dos indicadores socioeconômicos maranhenses não aumentarem consideravelmente. Afinal, o Maranhão existe desde 1534 e seus principais indicadores ainda mantêm-se inferiores aos da maioria das demais Unidades Federativas, inclusive as criadas mais recentemente. Por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão é de 0,550, enquanto o Estado do Tocantins, com 12 anos de criação, já alcança 0,590 e o Mato Grosso do Sul, criado em 1977, é de 0,850 (este, superior até mesmo ao Estado de origem, o Mato Grosso, cujo índice é 0,770). Para não cansar em exemplificações, o Maranhão também perde em analfabetismo funcional e em mortalidade infantil. É menor também a renda por pessoa (renda per capita - RPC): enquanto o Maranhão, com 1% da riqueza brasileira (PIB – Produto Interno Bruto), apresenta US$ 869,00 de renda anual por pessoa, o Estado do Tocantins, com apenas 0,2% já chegou a US$ 658,00 e o Mato Grosso do Sul já atingiu US$ 3.507,00, quatro vezes mais que o Maranhão, e com apenas 23 anos de criado. (A renda média do Brasil é de US$ 3.401,00). Pergunta pra deputado responder: Por que será que, em quase 500 anos de história, o Maranhão apresenta indicadores tão desgraçadamente inferiores, com solo, água, condições estratégicas e outros recursos tão infinitamente superiores aos de outros Estados?


“Nascer no Maranhão, morrer no Maranhão. As pessoas que migraram para cá [Imperatriz] querem continuar no mesmo Estado”. – Quem veio para cá, não veio propriamente para o Estado do Maranhão -- veio para um “estado de oportunidades”. É o constitucional e sagrado direito de ir e vir (jus eundi) em qualquer parte do território nacional e estabelecer-se com uma atividade ou profissão. Tanto que, quando se desiludem pela falta de apoio ou de perspectivas, as tais “pessoas que migraram para cá” e até mesmo as que já eram daqui vão estacionar seu carro e seus recursos de tempo, esforço e dinheiro em outro local, longe de Imperatriz e do Maranhão. Os latinos, baseados em Cícero, já diziam: “Ubi bene, ibi patria” -- Onde se está bem, aí é a pátria.


“Nós vamos construir o Maranhão grande, vamos tornar o maior Estado do Brasil”. – Puro delírio ufanista. Não dá para comentar. Essas palavras só podem ser consideradas como verdade se analisadas pelo aspecto retórico, emocional ou, deploravelmente, político.


“Se nós formos olharmos [sic] o tamanho de Goiás e do Tocantins, do Mato Grosso...” -- O deputado agride a Língua e a Cultura popular, que diz que “tamanho não é documento”. Aliás, pela pesquisa que fiz, salvo melhor juízo ou cálculo, apenas dois países (a Austrália e o Canadá), entre as 196 nações do mundo, têm média de tamanho territorial maior que a do Brasil, em termos de área do país dividido pelo número de Estados ou Unidades Federativas. A Austrália tem, em média, 853 mil quilômetros quadrados (km2) por Estado, e o Canadá, o país mais desenvolvido do mundo, tem 766 mil km2. A média brasileira é de mais de 300 mil km2. No dicionário da geografia das nações, do “A” do Afeganistão ao “Z” do Zimbábue, são muitos os países que têm um número bem maior de Unidades Federativas que o do Brasil: Afeganistão, 31; Albânia, 36; Argélia, 48; Egito, 27 (o mesmo tanto do Brasil, só que com um território de 1 milhão de km2, mais de oito vezes menor que o território brasileiro); Espanha, 50 (e apenas 505 mil km2); Estados Unidos, 51; México, 32; Turquia, 67. Se se considerar a média Estado/área territorial, praticamente os quase 200 países do mundo têm, em média, melhor divisão que o Brasil.


“Vamos formar em dois Estados miseráveis, desgraçados, pior do que já somos” [sic]. – É isso mesmo, sem tirar nem pôr. O Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão afirma que o Estado de onde há anos e anos ele tira voto, poder, influência e riqueza não passa de um “Estado miserável, desgraçado” e, se for dividido, tornar-se-á “pior” do que já é. Isso não é uma declaração política, é quase um atestado de óbito, uma declaração de falência pela falência múltipla de múltiplos órgãos (políticos inclusive). À consideração da Senhora Governadora.


“Reconheço, reconheço [que Imperatriz e região sul do Estado], ao longo dos governos, têm sido muito desprestigiadas, que há um débito do Estado para com esta Região”. – Sem comentários. Precisa dizer mais alguma coisa? (Em uma coisa, pelo menos, o deputado estadual tem razão quando pergunta pela força política de Imperatriz e região. Bem feito para nós. A debilidade de nossos poucos políticos, a precariedade de estrutura da nossa classe empresarial -- não falo de construção de prédios, mas de consistência de idéias, de destemor rumo ao confronto --, a absoluta ausência de um espírito solidário que una a todos em nome de uma causa comum, têm transformado Imperatriz numa Hiroshima de mentalidades, de estratégia, de erguimento do próprio futuro a que temos direito. Por ser rarefeita politicamente, esta cidade vem pagando um alto preço, que é descontado no seu futuro. Todo mundo se pergunta por que Imperatriz, tendo mais de 130 mil eleitores, só tem, em quantidade e qualidade, as representações políticas que tem. São andorinhas solitárias, um deputado aqui e outro acolá, poucos vereadores com substância e sentido, lideranças comunitárias sem visão, uma maioria empresarial limitada, limitante e limitadora, políticos menores, sem experiência de vida e ofício, sobretudo, políticos sem ousadia criativa, sem audácia inovadora, que se escondem atrás do biombo do “bom-senso”, da “maturidade”, da “diplomacia”, do “vamos com cuidado”, da aurea mediocritas horaciana e outros túmulos da velha, boa e pouco aprendida arte da guerra contra o atraso econômico, contra a empáfia política, a arrogância do Poder, o servilismo do interesse privado, que fede como a privada que fede. Tudo isso provém do medo. “De todos os instintos rasteiros –- é Shakespeare quem fala, pela boca de Joana d’Arc --, o medo é o mais amaldiçoado.”


“Não farei, não faço política aqui, mas a partir dagora vou fazer política aqui e vou ser radicalmente contra essa divisão, porque nós não vamos dividir o que é nosso, vamos é somar. Considero isso politicagem [a campanha pró-Maranhão do Sul] e não vou aceitar. O Maranhão não se divide, soma-se. Dividir por quê?” – Se o deputado considera essa campanha “politicagem”, a “sua” campanha (campanha “forte”) deve ser considerada o quê? Ato de heroísmo? Gesto de filantropia? Estímulo ao debate, deve ser. Aliás, a afirmativa “nós não vamos dividir o que é nosso” quer dizer o quê? O que é que é “nosso” mesmo? Um Estado “miserável e desgraçado”, de acordo com as palavras presidenciais do deputado? Então, se isto aqui é miséria e desgraça, não faz mal nenhum dividi-las? Ou os senhores “capitalistas ilhados” de São Luís vão querer primeiro tornar rica esta parte de cá do Maranhão para só depois dividi-la? Se não querem deixar seguir seu destino enquanto é “miserável”, imagina o que não farão se ela não o fosse? Ou será que esses “insulados capitalistas” sabem do potencial e das riquezas estratégicas desta região, sabem do grande, enorme futuro que o sul do Maranhão terá e, maquiavelicamente, tentam construir falsos ou frágeis argumentos para engabelar estas gentes de cá? Já se viu aqui, antes, muitos políticos de São Luís com muito conversa mole botando este povo-boi pra dormir.


Se o boi soubesse a força que tem, não se deixava ferrar nem tirar o couro. Ah! povo-boi...


(P. S. – Vamos acompanhar detidamente as palavras e a “campanha forte” do sr. Manoel Ribeiro). (E. S.)


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Foto: Aspecto da Chapada das Mesas, vista do alto do Morro do Chapéu, em Carolina - MA. (Do site http://www.skyscrapercity.com/)

22 de março de 2007

MARANHÃO DO SUL: SONHOS E REALIDADES DE UM ESTADO DE ESPÍRITO


(Palestra proferida no Encontro de Lideranças realizado pelo Comitê Pró-Criação do Maranhão do Sul em Imperatriz, 27/03/2004)
Senhoras e Senhores, Concidadãos e Concidadãs Sul-maranhenses, Senhoras e Senhores Políticos:


Ao mesmo tempo em que os saúdo a todos pela presença e participação, repasso-lhes, em nome do Comitê Central Pró-Criação do Maranhão do Sul, informações e sentimentos que acreditamos serem comuns à imensa maioria dos que aqui formam quantidade e fazem qualidade em mais este ato de fé e vontade irmã, promovido pelo Comitê e tornado real por cada uma das Senhoras e dos Senhores que abdicaram de lazeres e afazeres nesta manhã e tarde de sábado.


Senhores: No próximo ano, segundo registro de Carlota Carvalho em seu livro O Sertão, no próximo ano, 2005, estaremos completando 170 anos de algo que é, ao mesmo tempo, um sonho, uma vontade e muita luta: a autonomia político-administrativa desta parte de cá do território maranhense, que agora chamamos Maranhão do Sul.


170 anos, Senhoras e Senhores! 170 anos! Pode-se dizer que essa luta mais que sesquicentenária há de merecer um fim -- e um fim justo, que contemple nossas esperanças, nossas expectativas, nossa fé e, por que não?, nosso merecimento.


É certo que já houve esperas maiores, e isso acontece porque, na maioria das vezes, as forças políticas e governamentais contam com a disposição de seu principal cúmplice, que somos nós mesmos e nossa disposição para aceitar o eterno entrelaçar dos fios de Penélope, desfazendo à noite o que foi feito de dia.


Não há maior cúmplice da indisfarçável má-vontade governamental e da protelação sem fim da política do que a paciência passiva de um povo, do que a cordialidade quase ingênua do brasileiro e sua crença pia na boa vontade alheia, no histrionismo político-administrativo dos que nos enrolam.


Normalmente os políticos contam com nossa falta de cultura histórica, nosso desapego à documentação e acompanhamento pari passu do desenrolar dos fatos. Os que nos enrolam também contam com a tradição que diz que o brasileiro é um povo sem memória -- frase cuja repetição eterna funciona como um bisturi verbal a querer fazer em nosso cérebro uma espécie de lobotomia mental para nos tratar dessa provável esquizofrenia coletiva de esperança e luta por um novo estado.


Não, Senhoras e Senhores, não estranhem a linguagem. Estranhem é o fato histórico que nos dizem que nossos sonhos de repartição pacífica, de secessionismo cordial, já estarem completando 170 anos, quase bicentenário, e, afora nosso ideal, abram agora as suas mãos, olhem-nas e se perguntem qual foi o resultado e o que de concreto temos?


Palavras... palavras... palavras... -– para repetir Shakespeare -- é o que temos.


Senhoras e Senhores: Não há um dia em que este Comitê não seja cobrado sobre o andamento ou o resultado de suas ações. É a ansiedade de um povo acostumado a doar sem receber. É a angústia de não querer sentir mais seu sonho maior instrumentalizado como política menor. O povo do Maranhão do Sul quer ao seu lado gente interessada, não gente interesseira.


Muitos de nós, que somos cobrados, também somos motivos de gozação, pois, como aconteceu em pelo menos três vezes, os políticos pegaram nossos sonhos e os transformaram nos pesadelos de suas próprias vontades, instilando homeopaticamente gotas de entusiasmo e, nos bastidores, destilando em jorros seus reais interesses.


Confessamos: já estamos cansados daqueles que, pela frente, nos dão tapinhas nas costas e, por trás, nos dão socos na cara.


Quantas vezes uma ação desenvolvimentista maior, um projeto estruturante e estruturador mais significativo nos foi anunciado, e o que temos? Quantas vezes o anúncio da Usina de Serra Quebrada? O sonho quebrou-se. Quantas vezes a reativação da Estação da Vale do Rio Doce? Descarrilou. Quantas vezes o sonho da Hidrovia Tocantins—Araguaia? Foi por água a baixo.


Enquanto isso, sem política ou sem vontade política que assegure estímulos e subsídios para um adequado programa de captação de recursos e atração de investimentos, um número considerável de grandes empresas e empreendimentos tem sistematicamente deixado de se fixar em Imperatriz e região. Para adoçar nossa memória e azedar nossa indignação, registre-se que as indústrias Tampico e Coca-Cola fecharam e não mais produzem aqui seus produtos líquidos e certos. Mantêm-se em Goiânia e São Luís. O maior atacadista da América, a Distribuidora Martins, depois de dois anos, abandonou Imperatriz. Transferiu-se para Araguaína. As três maiores distribuidoras de autopeças do país, que chegaram a alugar instalações em Imperatriz, também desistiram: foram para o Tocantins. As indústrias Hering, que fabricam camisetas famosas em todo o mundo, igualmente abdicaram de Imperatriz. Foram para Anápolis. A indústria Tramontina, que para cá também desejava vir, mandou-se para o Pará. Uma indústria de rações e um frigorífico de aves semelhantemente suspenderam suas intenções de aportar em terras imperatrizenses e sul-maranhenses. Atravessaram o rio e instalam-se no Estado do Tocantins. E quantos exemplos mais muitos dos senhores e senhoras devem saber ou já ouviram falar.


Senhoras e Senhores: ainda não se descobriu fórmula que promova mais rápida e consistentemente o desenvolvimento do que a justa divisão territorial. Não é à toa que, segundo nossas pesquisas, entre 196 países do mundo, o Brasil é o terceiro mais injusto na repartição equânime de sua área. E, talvez por isso, não é à toa que o Brasil, entre os países do mundo, só perde em termos de qualidade de vida de seu povo, para três países africanos: Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia, que nós aqui respeitamos, mas, pelo visto, não desejaríamos morar lá.


Para nos convencermos de que, quando há vontade política (tanto dos parlamentares federais -- deputados e senadores -- quanto do Presidente da República), para exemplificarmos que, quando há essa vontade política um projeto como o nosso se pode realizar, lembremos o exemplo do Estado do Mato Grosso do Sul.


Acreditem: enquanto o sonho do Maranhão do Sul já vai para os duzentos anos, o Mato Grosso do Sul durou apenas e exatos 45 anos. A idéia de emancipação sul-mato-grossense é do início do século 20, mas foi em 1932 que se firmou seu marco mais importante, com a adesão do povo do sul do estado à revolução constitucionalista, sob a condição de que fosse feita a divisão. Daí, já em 1975 tinham-se definidos os contornos do desmembramento, iniciando-se uma forte campanha pela separação. Menos de dois anos depois, em 4 de maio de 1977, o Governo Federal comunicava sua decisão sobre o assunto. Ato contínuo, no mesmo ano, em 11 de outubro, a lei aprovada pelo Congresso Nacional foi sancionada pelo presidente da República. Como diz a música: “Fácil. Extremamente fácil.”


Por sua vez, o Estado do Tocantins começou sua luta em 15 de setembro de 1821. O povo rebelou-se contra o norte do Goiás e instalou o governo provisório da “República de Palma”. Os ânimos foram contidos, mas não sufocados. A idéia tornou em 1935 e em 1944 apresentou-se o anteprojeto de criação do Território Federal do Tocantins. Na década de 1970, um novo projeto. E na década seguinte, a vitória final, com a entrega da Emenda popular com 80 mil assinaturas e a conseqüente criação do Estado do Tocantins em 5 de outubro de 1988.


E sabem as senhoras e os Senhores as razões invocadas pelo Governo Federal para justificar o desmembramento e criar o Estado do Mato Grosso do Sul? Primeira: o Mato Grosso era uma área grande demais para comportar uma só administração. E, segunda: a diferenciação ecológica entre as duas áreas.


Vem cá, estamos falando do Mato Grosso. Não sei não, mas creio que também estamos falando de Maranhão e de Maranhão do Sul. Afinal, extensão territorial demasiada e diferenças ambientais, culturais, econômicas e de formação histórica são marcantes até para os menos avisados. O nó górdio, que se precisa desatar, é o olho gordo dos interesses políticos pouco ortodoxos, disfarçados de boa vontade para com a nossa causa. Sabe-se, por exemplo, de uma certa conversa em uma seleta festa nos salões sofisticados da Embaixada da Espanha, em Brasília, que,de certa forma, brincam com nossas aspirações. E, se é verdadeiro que in vino veritas, se quando entra bebida pela boca, pela mesma boca sai a verdade, temos motivos não apenas para nos preocupar, mas, sobretudo, para lutar mais, persistir, buscar combustível no nosso tanque de reserva -- que é maior do que o tanque principal.


Não poderia terminar estas palavras, Senhoras e Senhores, sem reavivar-lhes a seguinte constatação histórica, econômica e social: o Maranhão existe desde 1534; o Mato Grosso do Sul é de 1977; e o Tocantins, de 1988.


Pois bem: o Mato Grosso do Sul tem apenas 26 anos; o Tocantins tem somente 15 anos, e ambos, Senhoras e Senhores, com perdão da ênfase gramaticalmente inadequada, ambos os dois juntos e anexos apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os do Maranhão, que existe há 470 anos, quase o mesmo tanto de tempo de descobrimento do Brasil.


Será que ainda é para se ter dúvida de que a justa divisão territorial é o vetor de maior propulsão do desenvolvimento? E o que esperam os políticos e o Governo? Será que podem ser chamados de representantes do povo se sequer representam uma única vontade deste povo? Assim, que parte de nós representam os tais representantes do povo? Nosso corpo? A unha do dedão do pé? Não, Senhores Políticos, os Senhores têm de representar os nossos sonhos irmanados, a nossa vontade conjunta, a nossa alma coletiva.


E deixamos com o Governo Federal e com os políticos nosso recado: contem permanentemente com a nossa esperança... mas não contem sempre com o nosso esperar. Pois só esperar não é ser forte; é ser estático. Por mais que não lhes pareça, somos maleáveis, mas não somos moles. Somos flexíveis, mas não somos frouxos.


Antes de sermos Maranhão do Sul, há 170 anos fomos República dos Pastos Bons. Nestas terras sul-maranhenses, que com respeito as pisamos e nelas edificamos nossas obras e, algumas vezes, enterramos nossos sonhos, nestas terras sul-maranhenses a Câmara Federal, a Câmara dos Deputados, em setembro de 1973, tentou criar, no papel, o Território do Gurupi.


Nesta terra, onde muitos de nós vemos se alevantar nosso futuro e onde também vemos ruírem muitos presentes, nesta terra, em 1977, a Câmara Federal tentou criar, no papel, o Estado do Mearim.


Esta terra, onde derramamos e plantamos nosso suor, nosso sangue, nosso sêmen, nosso sofrimento e também nossa satisfação, esta terra, embora tendo sua divisão aprovada pela Comissão de Sistematização em 26 de junho de 1987, conforme o artigo 41 das Disposições Finais e Transitórias, esta terra teve, mais uma fez, um final transitoriamente infeliz: esta terra teve, pelos políticos federais, seu sonho votado e vetado.


É fácil vetar um papel -- mas é impossível proibir o sonho.


E, cá entre nós, é bom reaprender uma outra lição: criar um Estado depende do político, mas criar o político depende do povo, depende de nós.


Não importa quanta celulose, quanto papel os políticos encham com suas intenções e enrolações. Não importa, pois, pelo menos no que diz respeito a nós, o Maranhão do Sul já está criado, e o seu território, livre, grande, inexpugnável, eterno, é o território de nossas mentes, de nossa energia, de nossos corações, em nós e em nossos filhos e nos filhos dos que nos seguirem em descendência. Pode não ser um transitório Estado no papel, mas será um permanente estado de espírito -- e é o espírito, no final das contas, o que para sempre viverá.


Muito obrigado. (E. S.)
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(Foto: Pôr-do-sol no rio Tocantins, em Imperatriz, Maranhão)

SALTOS, NÃO PASSOS



(Texto publicado em 28 de dezembro de 2003)





Nesta edição, a página do Maranhão do Sul [do jornal O Progresso, de Imperatriz, Maranhão] convidou o jornalista Edmilson Sanches para fazer uma análise diferenciada sobre o que, na sua avaliação, constituem os motivos para um maior engajamento dos diversos estratos da comunidade imperatrizense, sobretudo os de natureza política e econômica, na luta pelo Maranhão do Sul. Em diversos momentos e eventos, têm-se constatados pedidos e reclamações de pessoas que estão na linha de frente da luta pelo Maranhão do Sul, que falam da falta de mais apoio, de participação financeira para manter e melhorar estruturas físicas e logísticas. O que leva a esse não-compromisso maior por parte das forças políticas e econômicas da cidade? Alguns desses aspectos são levantados aqui por Edmilson Sanches, cujos textos, discursos, estudos e ações em favor do Maranhão do Sul o credenciam, desde a década de 70, a manifestar sua opinião sobre o assunto.

SALTOS, NÃO PASSOSEdmilson Sanches


As movimentações em torno da criação do Maranhão do Sul tiveram em 2003 um elemento diferenciador: a visita de representações de comitês e de comunidades de diversos municípios ao Congresso Nacional [foto], em Brasília. A reafirmação de compromisso pela causa, feita por alguns políticos federais, a manifestação nova de enfileiramento no processo, feita por outros, e o quase comprometimento de um ou outro político foram importantes e, de todo modo, contribuíram para aumentar o saldo positivo do encontro.


A luta pelo Maranhão do Sul bem que poderia ter mais soldados, soldados expostos e dispostos. Mas, para o tamanho da cidade e, sobretudo, pelo número de batalhas e extensão da guerra, Imperatriz ainda deixa a desejar. Apenas um grupo mais orgânico e consistente, reunido sob a égide de comitê central, insiste, persiste e não desiste. Outros grupamentos, se existem, têm ação tópica, pontual, e se reúnem apenas quando, e se, uma ação maior é demandada.


EGOÍSMO - Pelo menos três fatores podem ser identificados sobre o porquê do baixo nível de envolvimento formal e exposição na causa pelo novo estado: egoísmo, refração e reboquismo. Por egoísmo entende-se o caráter isolante, isolador e isolacionista de pessoas bem-postas da comunidade imperatrizense, que não querem se abrir à participação mais ativa na vida da comunidade, preferindo omitir-se, embora torcendo, na solidão de gabinetes e quartos, pelo sucesso da empreitada. Se proprietárias de negócios, pessoas assim são e serão grandemente beneficiadas: se a causa não se realizar, elas não se “queimam” ante certos estratos políticos e podem ir tocando seus negócios normalmente, sem sobressaltos. Se a causa der certo e o novo estado vier, seus negócios serão fortemente e positivamente impactados. Como, em diversos casos, têm mais negócios, terão mais benefícios.

REFRAÇÃO - Uma outra característica de não-envolvimento na luta pelo Maranhão do Sul é o caráter refratário de certas pessoas. A refração é a resistência a certas influências físicas ou químicas. Assim também na sociedade: por questões socioculturais, muitas pessoas, inclusive de sucesso econômico, teimam em não “viver” a comunidade -- apenas vivem nela. São parte, mas não são parceiras, partícipes. Não têm sentimento de pertencença (ownership). Não desenvolveram o sentido de que são “proprietários”, e não só exploradores, da cidade e sua região. Não desenvolveram amor de verdade pela cidade -- apenas desenvolveram apego à sobrevivência de seus negócios. Ainda há aqueles que, se fosse afetada sua vida negocial, não hesitariam em planejar a mudança da família e a transferência dos negócios para outra região.


REBOQUISMO - Uma terceira característica é o reboquismo. O reboquismo, ou servilismo, é a falta de opinião própria, é o colocar-se a reboque de forças maiores, sobretudo políticas. Às vezes o reboquismo é pintado com outras cores, mas quem está a reboque sabe que é um serviçal, submisso a interesses políticos superiores, dos quais é subalterno e aos quais coloca à disposição a própria individualidade e orgulho, sem falar em contribuições financeiras e patrimoniais, no momento certo. O reboquista é, no fundo, um defensor dos próprios interesses -- o que, aliás, de algum modo, é característica de toda gente, com a diferença de que alguns são interessados (lutam –- também -- por causas coletivas, históricas, transcendentais) e, outros, são interesseiros (não defendem causa, mas cousas, as quais, no fim, convergem para seu espectro de interesses personalistas, algumas vezes travestidos de ação de grupo, categoria ou classe).


COVARDIA - Poder-se-ia juntar uma outra característica: a pura e simples falta de coragem, o medo, receio, temor, frouxidão, quase covardia. Como diziam nossos avós: quem tem fundo, tem medo. Pessoas que “não querem se envolver”, que querem continuar “sossegadas” em seu canto, que no máximo querem apenas continuar “tocando” seus negócios, que têm medo da “fiscalização”, da “receita”, que “não gostam” de certos movimentos ou movimentação. Tudo isso são desculpas, rotas, descosidas, esfarrapadas, em trapos. Nada justifica a omissão, afora a covardia. Toda pessoa é culpada do bem que não quis fazer. Os chineses dizem: “A gente vive mesmo é no ato de se expor. O contrário, é não marcar o tempo -- é só do tempo marcas ter”. As pessoas têm o dever de pensar grande -- como já disseram, não existe Alexandre o Médio.


SOLDADOS, NÃO GENERAIS - Dessa forma, nesse arremedo de análise sociológica, antropológica e psicológica, a constatação pura e simples da falta de mais aguerrimento na luta pelo Maranhão do Sul. Basta de generais. Precisam-se de mais soldados, de mais infantes. Gente disposta a ir para o front, a linha de frente, dar o peito à bala.


MAIS DIVISÃO, MELHOR ADMINISTRAÇÃO - Se as forças sociais, econômicas e políticas de Imperatriz quisessem, esse movimento há muito estaria mais fortalecido. Teria formado e estaria sustentando equipes full-time (tempo integral) de técnicos, de comunicadores, de analistas e estrategistas. Gente pesquisando, divulgando intermitentemente, programando eventos aqui e alhures, ampliando a consciência de que se deve dividir mais (o território) para administrar melhor (os recursos).


POSTURAS E COMPOSTURAS - Imperatriz [município do sul do Maranhão] é uma cidade para todos mas ainda não é de todos. Até a década de 1950 ela sequer dava sinais de que, um dia, viria a ser a mais importante do sudoeste maranhense. De repente, no início da década seguinte, uma “invasão” de brasileiros mudava de endereço e de destino e, pelas vias da Rodovia Belém—Brasília, transferiram-se para Imperatriz dezenas de milhares de novos migrantes. Brasileiros de todos os estados e estrangeiros dos diversos continentes. A cidade era considerada “boa” porque aqui os negócios “rendiam”. Mas a uma cidade não basta ser a amante, abrindo-se e se oferecendo toda. Uma cidade também quer ser amada. E aquele amor, como nas relações adúlteras, era apenas “da boca pra fora”. Quem ama tem zelo, cuidado, oferece-se às vezes em sacrifício. Mas o próprio aspecto físico e o cumprimento de algumas e miúdas obrigações políticas, legais e sociais, de posturas (o código) e composturas (as atitudes), revelam que aquele verdadeiro e decantado amor pela cidade ainda não chegou nem às calçadas (irregulares e irresponsáveis). Ou, então, tem gente que não sabe o que é amor.


VOZ, CHAMA QUE QUEIMA E CLAMA - Enquanto isso, as chamadas “famílias tradicionais” de Imperatriz perderam muito de seu poder vocativo (de chamar) e evocativo (de ser referência). De certo modo, foram “sufocadas” pela vozerio e algazarra das “novas” famílias que se iam assentando à medida que se iam estruturando, sem freio, novos negócios na vila do Frei [nome carinhoso para Imperatriz, fundada pelo frei Manoel Procópio do Coração de Maria em 16 de julho de 1852]. Hoje, são poucos os membros dessas famílias com direito e com dever de voz nos colegiados de representação classista, comunitária, cultural e política de Imperatriz. São pessoas de honorabilidade, entretanto, as instâncias de decisão lhes têm conferido e confirmado, atitudinal e fisiologicamente, mais ouvidos que boca. Mas é a voz, como chama que queima e clama, que tem registro na História. Por enquanto, ouvidos têm sido de interesse mais de médicos que de historiadores.

* * *

A CAUSA DAS COISAS - Quando se vão buscar os motivos, as justificativas para determinadas ações ou omissões, normalmente somos apresentados a fatores exógenos, externos, fora do indivíduo. Ora, o que move a humanidade está no humano, e é no ser, na pessoa, no seu corpus e na sua função biopsicossocial e político-econômico-cultural que está “a causa das coisas”. Lá dentro, no íntimo, residem as razões últimas, ou primeiras, do que se nos é mostrado no quotidiano. Avaliar a falta de maior participação de certas pessoas em determinadas causas não pode ter, como único vetor, a falta de dinheiro ou de tempo, a inflação, os juros altos, a queda nos negócios, a preocupação com a fazenda... Se não estão presentes na luta, muitas dessas pessoas estão presentes na mídia, e por ela, cheias de empáfia e vazias de substância, declaram seu acendrado amor à causa, vaticinam os melhores êxitos, prognosticam datas, autoincluem-se, como generais à distância, numa luta que, verdadeira e essencialmente, nunca foi deles.

SALTOS, NÃO PASSOS - Dizem que a natureza não dá saltos. Mas a História pode dar. A natureza é evolução; a História, revolução. O caminho da natureza faz-se a passos; o da História, faz-se também a saltos. A luta pelo Maranhão do Sul, de quase 200 anos, já deu muitos passos. Agora, precisa de saltos. Salto de atleta olímpico: estudado, preparado, calculado. Salto para o alto. Para o alto e à frente. 2004 dirá e medirá o tamanho da nossa ação. E omissão.

Feliz ano novo. (E. S.)

MARANHÃO DO SUL - APONTAMENTOS



- Os primeiros registros até agora disponíveis sobre movimento separatista nesta região, referem-se ao ano de 1817 (190 anos neste 2007). Nesse ano, intelectuais de outros pontos do Brasil chegaram à região de Pastos Bons, após participarem de malsucedidas lutas revolucionárias. Tentaram criar a República de Pastos Bons.



- 1959: Dunshee de Abranches, no seu livro A Esfinge de Grajaú registra o alerta de estes “rincões” acabarem “no futuro por formar um estado independente, talvez uma vasta República”, “se as coisas não mudarem” e “continuarem estes rincões abandonados, oprimidos e massacrados pelos governos”.



- 1973: A Câmara dos Deputados cria a Comissão de Estudos de Redivisão Territorial do Brasil. Objetivo: "promover o estudo dos problemas relativos à constituição de novas unidades federativas, através da redivisão das existentes”.



- 1973: No dia 13 de setembro, Siqueira Campos apresenta sua Sugestão para Redivisão Territorial da Amazônia Legal, onde se propõe a criação do Território do Gurupi, com desmembramento do Maranhão. A capital seria Imperatriz e a nova unidade federativa teria área de 207.451 km2.



- 1974: O Brasil assina a Declaração de Bucareste (Romênia), que trata da divisão dos espaços territoriais.



- 1975: A Câmara Federal cria a Comissão Especial de Redivisão Territorial e Política Demográfica.



- 1976: Movimento de que participou o vereador imperatrizense Joaquim Paulo de Almeida.



- 1977: O Relatório Final da Comissão Especial de Redivisão Territorial e Política Demográfica, da Câmara Federal, recomenda a “urgente criação do Estado do Mearim, tendo como capital Imperatriz”.



- 1987: No dia 22 de maio, reunião, no Juçara Clube, em Imperatriz, da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte, para discutir projeto de redivisão territorial do Maranhão, conforme proposição do deputado federal imperatrizense Davi Alves Silva. O jornal O Progresso deu farta cobertura e publicou um suplemento especial, organizado pelo jornalista Edmilson Sanches.



- 1987, primeira quinzena de junho: o projeto é votado na Comissão de Organização do Estado e é aprovado por 45 votos contra 6.



- 1987, dia 26 de junho: O relatório é concluído e entregue ao presidente da Comissão de Sistematização, senador Afonso Arinos. O artigo 41 das Disposições Finais e Transitórias do que seria a Constituição Brasileira prevê textualmente: “Fica criado o Estado do Maranhão do Sul, desmembrado de Estado do Maranhão, com capital na cidade de Imperatriz”. Na votação em plenário, entretanto, o projeto não foi aprovado.


- 1995: Em 8 de junho, o deputado federal maranhense (de Balsas) Roberto Rocha apresenta ao plenário da Câmara dos Deputados projeto de decreto legislativo visando a realização de plebiscito sobre a criação do estado do Maranhão do Sul. Após tramitar durante um ano e nove meses, o projeto é arquivado, em 7 de março de 1997.



- 2001: Retomada a luta pela criação do novo Estado, com a criação do Comitê Pró-Criação do Maranhão do Sul, em Imperatriz, e posterior apresentação de projeto, do deputado federal Sebastião Torres Madeira.



Segundo a Enciclopédia de Imperatriz (2002; foto), do jornalista Edmilson Sanches:



...o Maranhão do Sul teria área de 146.539 quilômetros quadrados (km2) e população de 1.126.050 habitantes (dados de 2002, atualizados pelo IBGE). 62% da população estaria nas cidades e 38% na zona rural. A densidade demográfica é de pouco mais 7,5 (sete e meio) habitantes por km2 (compare-se com a do município de Imperatriz, que tem mais de 169 (cento e sessenta e nove) pessoas para a mesma área. Os eleitores, com base em dados de 2000, chegariam a 600 mil. A riqueza econômica, medida em 1996 (antes, portanto, da criação dos novos municípios) é de 1 bilhão e 300 milhões de dólares.



...o novo Estado teria, em termos de representação política, 22 deputados estaduais, 8 federais, 3 senadores e nele seriam aplicados, pelo Governo Federal, cerca de meio bilhão de reais em despesas de instalação.



...os três maiores municípios em extensão territorial são: Balsas, com 13.141,64 km2; Alto Parnaíba, com 11.132,11 km2, e Mirador, com 8.609,82 km2. Imperatriz, com 1.367,90, seria o 33º entre os 49 municípios.



...em população, Imperatriz é o primeiro, com 231.134 habitantes; Açailândia, o segundo, com 93.455, e Barra do Corda, o terceiro, com 78.468. (Dados da “Enciclopédia de Imperatriz”, lançada em 2002).



...os recursos totais transferidos para os 49 municípios do Maranhão do Sul, em 2001, somam R$ 301.954.067,00, o que corresponde a apenas 19,19% do total do Estado do Maranhão (R$ 1.572.896.807,00). Esses recursos são formados por: ICMS (mercadorias e serviços), FPM, FPEX (exportação), IPVA (veículos), Fundef (educação) e SUS (saúde).



- As regiões emancipadas crescem mais. Exemplos são o Estado do Mato Grosso do Sul (criado em 1977 – há 34 anos) e Tocantins (1988 – 19 anos): quase todos os indicadores sociais e econômicos desses Estados são maiores ou mais positivos do que os do Maranhão, estado que existe há mais de 470 anos -- já era capitania em 1534. Como se explicam tão notáveis indicadores em tão pouco tempo de existência e tão miseráveis índices no Maranhão de quase meio milênio de vida? (E. S.)

PAÍSES, ESTADOS, MUNICÍPIOS


Quando o século 20 chegou, o mundo contava 75 países. Hoje, já são mais de 200 -- 194 deles participantes da ONU (Organização das Nações Unidas).


O Brasil começou com 14 capitanias hereditárias, em 1534. Hoje são 27 unidades federativas (26 estados e um Distrito Federal, com Brasília capital).


Em 1890 o estado do Maranhão tinha 10 municípios. Em 1930 eram 27. Atualmente são 217. E na fila de espera tem mais propostas de autonomização de distritos.
...
Observação: Em 1504, dom Manuel doou a Fernão de Noronha a ilha de São João, constituindo a Capitania de São João, que ficou só no papel. Hoje, é o arquipélago de Fernando de Noronha (21 ilhas, a maior com 17 quilômetros quadrados), pertencente ao estado de Pernambuco, depois de uma existência como unidade federativa (território) que durou 46 anos, de 1942 a 1988).
...
Outra observação: O número de capitanias hereditárias aumenta de 14 para 15 se for considerado que a capitania do Maranhão era dividida em duas. (ES)

...E FOI ASSIM QUE A COISA COMEÇOU


Dividir é, em geral, algo positivo. É BBB -- bom, bem, belo.

Seja na religião ou na filosofia, na geografia ou na geologia, dividir veio para somar, multiplicar.

Dividir não é coisa para egoístas, tampouco para mal-informados e/ou mal-intencionados. E os há, e muitos, em umas e outras classificações, ou todas elas em conjunto.

Dividir é, mais que tendência, uma constância. Melhor se mais e mais.

Na espiritualidade cristã, o principal símbolo da religião não é (ou não devia ser) a cruz, mas o pão, que se parte e reparte, que se partilha e compartilha. Que se divide. Dividir é quase divinizar.

Na filosofia, dividir o conhecimento é multiplicá-lo. Compartilhar o saber com o outro é ampliá-lo em si mesmo. O conhecimento, assim como o amor, é daquelas "coisas" que quanto mais se repassa para outrem mais se reabastece em si. É dividindo que se recebe...

Na geologia, nem o planeta Terra agüentou a unicidade continental da Rodínia, nome dado ao supercontinente único de um bilhão de anos atrás. Depois de existir por 250 milhões de anos, Rodínia, a terra primeira, a "terra natal", ao sabor dos bamboleios e remelexos líqüidos e incertos das placas tectônicas, dividiu-se e refundiu-se, tornou-se Pannotia (há 600 milhões de anos), transformou-se em Pangéia (há 540 milhões de anos). E até aí era tudo um território só...

Mais alguns requebros e quebras, e Pangéia, 200 milhões de anos pra trás, bipartiu-se e deu à luz dois formosos supercontinentes: Laurásia e Gondwana, esta aqui embaixo, no sul (se você estiver olhando certinho o mapa). Na Gondwanaland (como escrevem os de língua inglesa), estavam as atuais terras sul-americanas, brasileiras, nordestinas, maranhenses.

Mais algumas dezenas de milhões depois, Laurásia e Gondwana, como mestre-sala e porta-bandeira, sambaram ao sabor do magma fervente e dividiram-se. E em cima da geologia de ontem (e bota ontem nisso...) a geografia de hoje, com régua e compasso, com astrolábio, bússola e GPS, com luneta e telescópio, astronaves e satélites, diz que a neoproteozóica Rodínia, a pré-cambriana Pannotia, a mesozóica Pangéia e as jurássicas Gondwana e Laurásia são os seis continentes atuais -- África, América, Antártica, Ásia, Europa e Oceania, espalhados por 150 milhões de quilômetros quadrados e ocupando pouco mais de 29% da superfície total do planeta (os 60 e pouco por cento são dominados pela água).

Aí, entre 130 mil e 200 mil anos atrás (pelas contas da ciência, pois na religião é de fé e respeito), surgiu o ser humano, na mãe África. Quarenta mil anos depois, muitos desses nossos antigos irmãos (ou mamães e papais) chegam à Europa e à Oceania. Por fim, há 10 mil anos, chegam às terras nossas, o continente americano.

E vai daqui vai pr'acolá, o ser humano duas vezes sábio (Homo sapiens sapiens) reparte os continentes em países, estes em regiões, estas em estados, províncias, departamentos, condados etc., estes em municípios, cidades, comunas etc., que se dividem em bairros ou distritos, passam por quarteirões, andam por avenidas e ruas e praças e becos e chegam até às nossas casas ou aos locais de trabalho, lazer e coisa e tal, onde eu a cumprimento, leitora, eu o saúdo, leitor, desejando-lhes saúde e paciência para, quando possível, acompanhar o que se vai dizer e reproduzir neste espaço virtual e virtuoso.

Como se viu, dividir quase sempre é positivo. E foi na geologia, nos requebros e quebras das placas tectônicas, que a coisa toda começou. Até chegar à luta por um novo estado ao sul do Maranhão, ainda tem muito chão...

Isto é só começo. (E. S.)